O governo reformulou a Câmara de Comércio Exterior (Camex) para priorizar a
política comercial e desburocratizar as decisões do “dia a dia” do comércio exterior, segundo fontes
ouvidas pelo Estadão/Broadcast.
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no futuro
Uma das mudanças é dar um “peso simbólico” para o tema do comércio exterior ao trazer o presidente
da República para a Camex. Jair Bolsonaro será o presidente do Conselho de Estratégia Comercial,
responsável pela política de comércio exterior e por questões estratégicas, como as diretrizes para o
setor, a abertura de negociações comerciais e o financiamento às exportações.
Pela primeira vez, o comitê mais importante da Camex terá como integrante o ministro da Defesa.
Além dele, estarão os chefes da Casa Civil, Economia, Relações Exteriores e Agricultura.
Na prática, porém, as mudanças fortalecem o Ministério da Economia, que terá cinco de dez votos
no Comitê-Executivo de Gestão da Camex, responsável por decidir questões “cotidianas” como tarifas,
defesa comercial, aplicação de direitos antidumping e salvaguardas, redução de impostos de importação
de produtos sem similar nacional e inclusão de produtos na lista de exceções do Mercosul, entre
outros.
O comitê executivo será presidido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que será o único ministro.
Os outros integrantes serão secretários da própria Economia e dos ministérios da Agricultura e
Relações Exteriores.
A regulamentação da nova Camex era esperada pelo setor exportador e acabou levando dez meses, com
o decreto na “fila” de normas que o governo tem que editar para regulamentar todas as mudanças feitas
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em ministérios desde o início do ano.
No formato anterior, que durou até o governo passado, as decisões da Camex eram tomadas por um
conselho de ministros, com representantes de seis pastas.
Segundo o Estadão/Broadcast apurou, a avaliação é que era preciso dar mais agilidade para as
decisões da Camex porque havia um “congestionamento” na agenda dos ministros com temas do
cotidiano comercial, como sobretaxas de insumos específicos ou redução de tarifas de produtos com
pouca relevância na pauta comercial.
Além disso, não havia uma discussão mais estratégica em relação às políticas comerciais adotadas pelo
País. Por isso a decisão de se criar dois conselhos, deixando os temas mais relevantes para o colegiado
de ministros e do presidente e os mais “corriqueiros” para o comitê executivo que, apesar de dominado
pela economia, ouvirá outras pastas com interesse no tema.
Com isso, as decisões devem ganhar mais agilidade, porque não dependerão da agenda de vários
ministros.
Para o ex-secretário de Comércio Exterior e consultor, Welber Barral, as mudanças são positivas
porque dão uma clareza em relação ao papel da Camex. “Não é o ideal, porque na Camex antiga você
tinha vários ministérios. Mas, nos últimos nove meses, as decisões vinham sendo tomadas apenas pela
Economia. Agora, pelo menos os outros ministérios conseguirão participar”, afirmou.
Ele lembrou ainda que a participação do presidente da República já ocorreu em outras ocasiões, como
na criação da Camex, no governo Fernando Henrique Cardoso. “É interessante porque mostra a
relevância do comércio exterior, mas na prática já foi tentado e não funcionou. São questões técnicas e o
presidente acaba não participando dos encontros”, afirmou.
Além do Conselho de Estratégia Comercial, integram a Camex uma secretaria executiva, o Conselho
Consultivo do Setor Privado, Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, Comitê de
Alterações Tarifárias, Comitê de Defesa Comercial, Comitê Nacional de Facilitação de Comércio, Comitê
Nacional de Investimentos, Grupo Assessor do Ombudsman de Investimentos Diretos e o Ponto de
Contato Nacional. (colaborou Luci Ribeiro)